Registro do movimento Artistas Pró Diretas que aconteceu em Porto Alegre, em 1984, e teve meu estúdio na Casemiro de Abreu como centro de ações. Organizado por mim, foi concluído em fevereiro de 2008, com material fotográfico de Luiz Antônio Guerreiro e texto de José Luiz do Amaral.

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I. movimento


1. REUNIÕES

Nas conversas entre o pessoal das artes plásticas, ia-se tornando evidente a necessidade de algum tipo de manifestação com relação às eleições diretas para a Presidência da República. Para decidir o que fazer, foi organizada uma reunião no atelier de Regina Ohlweiler, local que se manteve como sede do movimento. Estiveram presentes nesta reunião mais de duas dezenas de participantes. Houve troca de idéias, alguns pensaram em manifesto, e houve quem sugerisse uma passeata de bicicletas. Iberê Camargo propôs uma enorme vaca amarela de papier mâché que, a cada esquina, levantaria o rabo e defecaria os líderes e ministros do regime militar ainda no governo.

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Milton Kurtz, Iberê Camargo, Guido Goulart, Edison Schröder ..............................................            ...              ..    Regina Ohlweiler, Lenora Rosenfield, Alfredo, Nicolaiewsky, Mário Röhnelt

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Ana alegria, José Luiz do Amaral, Lenora Rosenfield, Alfredo Nicolaiewsky ..............................................             ..    .....Milton Kurtz, Iberê Camargo, Regina Ohlweiler, Guido Goulart

As reuniões prosseguiram e houve a eleição de um grupo de coordenação composto por Alfredo Nicolaiewsky, Ana Alegria, Fernando Baril, José Luiz do Amaral, Marta Loguércio, Regina Ohlweiler e Zorávia Bettiol. Enquanto isso, começava a organização do Comício que se realizaria dali a um mês. Como a imprensa mantinha-se cautelosa, pouco divulgando as ações de promoção das eleições diretas, surgiu a idéia de criar imagens e situações que os jornais e as emissoras de televisão não pudessem ignorar. E foi o que aconteceu. O Movimento passou a desenvolver uma série de ações cuja finalidade era gerar a visualidade de que os repórteres necessitavam para abrir caminho para o noticiário.

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Ana Alegria, Luiz Eduardo Crescente, Cezar Kruel ..............................................................                ...             ....Bina Monteiro, Tatiana Pinto, Regina Ohlweiler, Zorávia Bettiol, Baril


Ana Alegria, Cezar Kruel, Paulo Chimendes, Gutê, Antônio Frantz, Teresa Poester, Edison Schröder


2. O PANO DO MOVIMENTO

Não houve a vaca amarela sugerida pelo Iberê, mas a Maria Leda Macedo passou uma noite costurando uma enorme faixa amarela que depois foi pintada com o basta dos artistas e a exigência de eleições diretas. Em momentos de grande trânsito, sem aviso prévio, a não ser para o pessoal das reportagens, o pano amarelo era solto do alto de viadutos, chovia papel picado e os participantes distribuíam panfletos desenhados por eles e impressos em xerox, convocando para a participação no Comício das Diretas.

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Ação com o pano no Viaduto Loureiro da Silva

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Marta Loguércio, Regina Ohlweiler, Fernando Baril - Parque Moinhos de Vento...............................................Antônio Frantz e o pano do movimento - Parque da Redenção


3. OUTDOORS

Houve também a confecção de outdoors que foram espalhados pela cidade. Nestes, a pintura não era assinada por um ou outro artista, mas assumida pelo grupo todo. O que tanto tinha a ver com o perigo da exposição aos órgãos da repressão quanto com o sentimento de que era de unir forças que se tratava.

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Alfredo Nicolaiewsky, Edison Schröder, Ana Alegria, Regina Ohlweiler, José Luiz do Amaral, Alexandre Antunes, Irineu Garcia, FernandoBaril, VilmaReis, ZoráviaBettiol,Caé.
José Carlos Moura, José Luiz do Amaral, Ricardo Becker, Mário Röhnelt, Angélica de Moraes, Teresa Poester, Edison Schröder, Vera Chaves, Zorávia Bettiol, Cezar Kruel, Regina Ohlweiler, Irineu Garcia, Wiliamn Seewald


4. ATIVIDADES NA RUA

O Movimento tomou corpo, e as notícias na imprensa não pararam de dar conta do que se ia fazendo. Houve ações de rua, caminhadas, um sábado no Largo da Prefeitura e um domingo no Brique da Redenção. Não sem medo e apreensão, que a polícia ainda se mantinha vigilante em defesa do regime de força. Mas com muita energia e com apoio vindo de todos lados, como por parte de deputados e vereadores que acompanhavam as ações para agirem em caso de prisões, como André Foster, Jussara Cony, Francisco Carrion Júnior e Rui Carlos Osterman.

Sábado pelas Diretas - 8 de abril, Largo da Prefeitura

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Paulo Chimendes, Zorávia Bettiol, Regina Ohlweiler, Guido Goulard .....................................................................................................               ...              ..Irineu Garcia e sua Árvore das Diretas

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Ricardo Becker em atividade com crianças ....................................................................................................... 


Domingo pelas Diretas - 8 de abril, Parque da Redenção

Foram realizadas uma série de ações no Parque da Redenção, junto ao Brique, com pintura de cartazes, distribuição de panfletos, apresentações musicais e distribuição de camisetas pintadas por artistas conclamando para as eleições diretas.


Iberê Camargo e Glauco Pinto de Moraes; ao fundo, José Luiz do Amaral e Ana Alegria

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José Carlos Moura em atividade com o público

5. O COMÍCIO DAS DIRETAS

Tal foi o impacto que a organização do Comício – em que os políticos disputavam minutos para suas falas – ofereceu um espaço para a manifestação do Movimento Artistas Pró Diretas. E lá, no Largo da Prefeitura, em 13 de abril, o Movimento esteve presente com o amarelo de sua faixa luzindo entre as centenas de outras faixas, cartazes e bandeiras, e com sua voz pedindo o fim da censura e proclamando a necessidade de mudança.

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O pano do movimento no palanque do comício

Tendo sido chamados à participação, os componentes do Movimento reuniram-se na véspera do Comício das Diretas e decidiram que o, então, crítico de arte José Luiz do Amaral falaria em seu nome. E o que foi dito, perante as mais de duzentas mil pessoas reunidas diante da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e pela Avenida Borges de Medeiros afora, foi que a postura do pessoal das artes plásticas era a de não pactuar com o ocultamento:

"Como pessoas ligadas à produção de imagens, queremos dizer que não nos satisfazem as aparências cuja função é esconder a realidade. Não podemos pactuar com a criação de um visual para acobertar a prepotência e a corrupção, para encobrir a fome e a miséria. Não nos serve a democracia ilusória em que milhões morrem de fome. Não podemos fazer qualquer acordo com aqueles que há vinte anos tentam nos calar."


José Luiz do Amaral, em nome do movimento


6. EXPOSIÇÃO SOBRE AS ATIVIDADES

Como seguimento - e encerramento - das atividades, foi organizada no Bar do IAB, entre 16 de abril e 2 de maio, uma Exposição Registro, com fotografias das ações e material elaborado durante o desdobramento do Movimento.
Imagens de alguns dos panfletos criados e distribuídos pelos artistas:





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